Será que a “Fórmula Marvel” funciona nas séries de TV?

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Será que a “Fórmula Marvel” funciona nas séries de TV?

Por Camila Sousa

Quando a Marvel anunciou sua Fase 4 nos cinemas durante a San Diego Comic-Con, uma das coisas que mais chamou a atenção dos fãs foi a união entre filmes e séries de TV. Pela primeira vez em sua história, o estúdio teria produções do cinema e do streaming conversando entre si – ao invés de obras paralelas, como Agents of SHIELD e as séries da Netflix. Tal movimento aconteceu antes da pandemia de COVID-19 e, na época, soou como uma ação para movimentar o catálogo do Disney+. Dois anos depois, essa estratégia se mostrou ainda mais certeira, agora que o consumo de cultura pop acontece, em sua maioria, em casa.

Foi com essa expectativa que o estúdio lançou em janeiro deste ano WandaVision, produção estrelada por Elizabeth Olsen e Paul Bettany, mostrando o que aconteceu com Wanda após os eventos de Vingadores: Ultimato. A premissa é boa e o estúdio acertou bastante ao dar mais destaque para a atuação de Olsen, que passou de coadjuvante a uma das estrelas da Marvel mais amadas pelos fãs. Porém, alguns problemas já eram perceptíveis na série, especialmente no que diz respeito ao ritmo: WandaVision teve os três primeiros episódios focados totalmente em sitcoms, um capítulo quatro que quebrou esse ritmo, e um final à lá Marvel, com direito a uma grande batalha no centro da cidade.

WandaVision começou como uma divertida sitcom

Olhando de um modo mais técnico, a série parece ter replicado o mesmo formato de 3 atos de um filme: com a introdução aos personagens, desenvolvimento, clímax e encerramento. Porém, enquanto esta ideia funciona muito bem para os cinemas – e a Marvel já se provou expert em fazer isso na telona – tal ritmo soou estranho para uma série de TV que, além de fazer sentido como um todo, também precisa funcionar dentro dos próprios episódios.

A série seguinte foi Falcão e o Soldado Invernal que, novamente, acertou muito ao desenvolver personagens que dificilmente teriam esse tempo no cinema. O questionamento, aliás, tem pouco a ver com as histórias que estão sendo contadas, mas sim quanto ao formato: novamente, Falcão e o Soldado Invernal começou situando onde cada personagem estava, teve um meio mais lento de desenvolvimento, e um clímax empolgante nos episódios finais. Ao analisar Loki, série do Deus da Trapaça que chega ao final na próxima semana, a lógica parece a mesma: embora a história seja boa, há episódios no meio que destoam em termos de ritmo, enquanto toda a ação é guardada para um “final grandioso”.

Falcão teve várias tramas paralelas no meio da série

Com essa primeira leva de séries praticamente lançadas, não é exagero dizer que a Marvel segue tentando replicar o formato que fez sucesso durante uma década inteira no cinema. E não há problema nenhum nisso, afinal, quem vai querer mudar uma lógica tão vencedora? O grande incômodo é que soa quase como um desperdício utilizar a TV para replicar exatamente o formato de cinema. Ao pensar dessa forma, a Marvel cria capítulos praticamente descartáveis no meio de suas produções, deixando de lado a oportunidade de explorar mais o que uma série pode oferecer.

Não há dúvidas que dar mais tempo de tela para personagens queridos é um acerto, mas é importante também dosar acontecimentos e tramas, para que cada episódio entregue algo relevante para quem está assistindo. Afinal, no cinema, o próximo ato acontece logo em seguida, enquanto na TV é preciso esperar uma semana inteira para entender se aquele capítulo valeu a pena.

Loki: muita expectativa para uma cena bem rápida

De um modo geral, séries de TV costumam investir bastante em dosar acontecimentos ao longo dos episódios, por questões de renovação de temporada e audiência. Na TV aberta comum, é muito importante manter-se relevante e um capítulo sem muitos acontecimentos pode custar uma boa fatia de audiência. No caso de séries para o streaming, geralmente a produção tem uma quantidade de episódios garantida e, em relação à Marvel, há um conforto adicional em estar no streaming da casa, sem grandes problemas para renegociar ou renovar.

Ainda assim, como o plano de investir em séries parece ser à longo prazo, com produções como Ms. Marvel e She-Hulk já anunciadas, é importante que o estúdio fique atento ao formato que está produzindo. Não é necessário mudar tudo ou descaracterizar o que torna o MCU tão empolgante – mas tanto o estúdio, quanto os fãs têm muito a ganhar se a conhecida “Fórmula Marvel” for, de fato, adaptada para a TV, e não apenas utilizada da mesma forma que acontece no cinema.

O episódio final de Loki vai ao ar no Disney+ no próximo dia 14.

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