Será que Hollywood vai invadir os games?

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Será que Hollywood vai invadir os games?

Por Lucas Rafael

Foi-se o tempo dos gráficos geométricos e cubistas do passado. La atrás, a maioria dos jogos precisava ser sobre um mascote, um personagem cartunizado sem compromisso com a realidade para fazer a ideia colar. Qualquer coisa que se assemelhasse a um ser humano de verdade ficava meio estranha. As expressões faciais eram duras e rígidas, os membros do corpo eram retangulares e truncados. Ainda bem que o tempo passa.

Antigamente (leia-se, dos primórdios dos videogames até a era PS1), jogos eram vistos mais como uma brincadeira lúdica do que como uma forma madura de entretenimento – pelo menos de acordo com o senso comum. Era “coisa de criança” e os gráficos descompromissados com aquilo que é real (o que ocorria mais por limitações técnicas) apenas reforçavam o caráter dos games como uma mídia imatura.

Agora repare na imagem abaixo, trazendo a captura digital do ator Mads Mikkelsen para o game Death Stranding:

Mads Mikkelsen em Death Stranding. Sim, isso é uma captura digital.

Das penugens do bigode até cada detalhe presente no rosto de Mikkelsen, chegamos ao ponto no qual tudo na tela de um videogame pode espelhar nossa realidade de maneira um tanto absurda. Mais do que espelhar a realidade, os games podem melhorá-la. Faces vincadas de rugas, expressões de medo, carinho e humor, tudo pode ser capturado por um computador e reproduzido em gráficos tridimensionais.

Em algum momento da era PS1 (1994), seus pais passavam por você jogando algo na sala e soltavam aquele famoso comentário.

“Nossa, parece um filme.”

E não é que parecia mesmo?

Noções de enquadramento cinematográficas, dublagem profissional e maestria nas composições digitais alavancaram os games a um além. Um dos primeiros títulos que se deliciava com essas noções audiovisuais emprestadas do cinema era Metal Gear Solid (1998).

Tais “noções cinematográficas” incluíam dublagem profissional, créditos iniciais, trilha-sonora épica e uma narrativa com cenas cuja decupagem prestava homenagem para clássicos do cinema.

Hoje em dia, já não é mais uma baita novidade esse casamento de técnicas de cinema e jogos digitais. Existem jogos que contam com a presença de celebridades – e não é de hoje.

Um ápice do casamento entre cinema e games é Death Stranding, jogo exclusivo de PS4 que chega mês que vem (08/11).

Já tivemos grandes nomes hollywoodianos em jogos antes, mas nada que pudesse, de fato, elencar um filme de grande orçamento.

No novo game do autor Hideo Kojima, temos Norman Reedus (The Walking Dead), Mads Mikkelsen (Hannibal, Doutor Estranho, A Caça) e Léa Seydoux (Bastardos Inglórios, 007 Contra Spectre) compondo o trio de personagens centrais à trama. Parece até elenco de filme Hollywoodiano de orçamento considerável.

Além destes nomes, marcam presença ainda Guillermo Del Toro (que tem um Oscar de melhor diretor na conta) e Nicolas Winding Refn (diretor de filmes cultuados como Drive e Só Deus Perdoa).

No caso de Del Toro e Refn, eles não chegam a dublar os próprios personagens, sendo apenas escaneados e tendo seus modelos tridimensionais articulados no jogo, dublados por outras pessoas. Construíram uma versão digital de alguém e estão usando como boneco num simulacro. O presente já parece o futuro.

Diferente do passado cubista dos gráficos de jogos, hoje em dia, Death Stranding prova que a captura digital atingiu um ápice técnico de excelência, permitindo ao público que absorva de maneira muito mais intensa as emoções dos personagens.

Não só na viagem visual, mas hoje artistas são convidados para compor trilhas-sonoras próprias, para os jogos, coisa própria de Hollywood. Death Stranding conta com um álbum completo produzido por músicos indies e não-tão-indies renomados. CHVRCHES, The Neighborghood, Major Lazer, Khalid, são todos nomes presentes no game, em trilhas de filmes blockbuster e no próximo line-up do Lollapalooza.

É um esforço tão grande na ambientação, em tentar te colocar dentro desse mundo, que o game se torna interessante não apenas pela história e jogabilidade, mas contemplativo e atrativo pela imersão. Essa é uma das prioridades, vide que Death Stranding será lançado com um modo Super Fácil, que, de acordo com a produção, é para as pessoas que se interessaram não pelo game, mas pela estética cinematográfica.

A mira no público de cinema existe, é bem clara e reconhece que essas pessoas não são pró-gamers, na verdade podem nem saber jogar um Super Mario ou Tetris direito, mas que isso não deve impedi-las de vivenciar essa experiência que também é cinema.

O videogame saiu de sua infância e já passa a dominar o mercado mais que Hollywood.

 

O elenco de peso de Death Stranding. 

Será que o cinema vai morrer e os consoles tomarão seu lugar? Não hoje, nem amanhã, mas quem sabe um dia. Ou quem sabe essa previsão esteja toda errada sendo inutilizável até prum episódio ruim de Black Mirror. Mas que os alicerces de um futuro nestes moldes para o entretenimento já estão fundados, é inegável. Vejamos o que Death Stranding oferecerá e quem sabe eu faço outra previsão em breve.   

Leia também: Death Stranding – Afinal, sobre o que é esse jogo?!

Confira os cartazes de Death Stranding na galeria a seguir:

Death Stranding chega às lojas no dia 8 de novembro e será um exclusivo de PlayStation 4.